14 de out. de 2009

BOB DYLAN E O CRISTIANISMO

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O rock sempre foi acusado de ser uma criação do diabo e para reforçar tal tese, alguns de seus mais ilustres representantes fizeram questão de alimentar tal polêmica, declarando-se seguidores fiéis do maligno, fazendo-se assim notar intencionalmente em performances provocantes nos palcos e nas letras e músicas que criavam. Mas como a maioria das coisas deste mundo, há casos de parodoxismo em que roqueiros convictos do caminho aparentemente libertário do sexo, drogas e rock & roll, tendem em determinado momento, em que suas carreiras se tornam vazias e sem rumo, a acrescentar ingredientes mais suaves e de conteúdo espiritual em suas obras. É de se esperar de volta resistência em relação ao elemento estranho incluso no meio e geralmente acontecem reações negativas de hostilidade, ameaças e rejeição por parte de um segmento considerável do público e crítica.

Dylan, insinuou que teria feito um pacto com o "senhor deste mundo"
A tentativa por parte do rockstar de tentar conciliar os extremos acaba, mais cedo ou mais tarde, por provocar um choque considerável que pode causar danos irreparáveis na mente e na carreira do músico.
Dois personagens importantes na história do rock experimentaram e se arriscaram neste empreendimento de rock espiritual, mas como previsto, não saíram totalmente ilesos, pois há sempre um preço a pagar para o bem ou para o mal. Foram eles, Bob Dylan e Elvis Presley. Ambos tentaram harmonizar o sagrado e o profano como se pudessem...mas está escrito em Mateus 6.24 : “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.” 


 Bob Dylan – Os avós de Dylan viviam no leste europeu dominado pelo Czar Nicholas II, que acusava os judeus de responsáveis pela decadência do império russo, e quando começou a perseguição em 1905 pelos simpatizantes do Czar, vovô Zigmar Zimmerman imigrou para os Estados Unidos da América, mais precisamente para Duluth, Minnesota. Em 1911 Abe Zimmerman, filho de Zigmar, nasce e, em 1934, aos 22 anos, Abe casou-se com Beatrice (Beatty) Stone. Deste casamento foi gerado Robert Zimmerman (mais tarde conhecido como Bob Dylan) que nasceu em 24 de maio de 1941. Quatro dias após seu nascimento Bob foi registrado e circuncidado conforme as tradições judaicas.

Bob Dylan, um profeta para alguns
Apesar de não te sido criado em lar ortodoxo, Bob recebeu ensinamentos bíblicos básicos. O que foi determinante mais tarde para a criação das letras de suas músicas que o tornaram o poeta de rock mais influente do mundo, sendo que muitas destas eram baseadas em todas aquelas imagens contidas no Velho Testamento, ou seja, nos primeiros 5 livros da Bíblia ou Pentateuco, que é adotado pelos judeus ortodoxos. Mas uma frase dita por seu pai o acompanhou por toda sua vida, algo como: “...que é possível alguém tornar-se tão desonrado que seus próprios pais poderiam abandoná-lo, mas se isso acontecesse, Deus sempre acreditaria na sua própria capacidade de redenção.”
Sua trajetória de rockstar se deu naturalmente no início dos anos de 1960 até a segunda metade dos anos de 1970. Bob Dylan apareceu para o grande público como cantor folk, basicamente voz, guitarra acústica e harmônica e, em 1965, escandalizou todo um segmento de puristas fanáticos pela folk music quando amplificou seu som e se apresentou a todo volume com Mike Bloomfield na guitarra e banda no festival de Newport, foi um choque monumental que pegou público e crítica pela primeira vez de calças na mão.

Em 1974 Bob estava cansado das farras, da fama, da imagem de profeta do rock criado sobre si mesmo, da grana fácil, dos shows estereotipados para grandes multidões perdidas nas drogas e na alienação que viam nele um “messias” que lhes dariam um sentido razoável para se continuar vivendo e acreditando no ser humano.


Slow Train Coming, 1979
Bob se encontrava bastante deprimido, mas duas de suas antigas namoradas Mary Alice Artes e Carolyn Dennis que vinham do meio evangélico, como também outros membros da banda da época, foram influentes na sua conversão ao cristianismo em seguida. A princípio eles o incentivavam a orar sempre que estivesse em alguma situação desanimadora e assim foi, até que em certa ocasião Bob teria tido uma visão e sentido a presença de Jesus Cristo numa sala. Em 1979, o pastor de origem luterana Kenn Gulliksen, que fundara sua própria igreja, a Vineyard Fellowship em 1974, a mesma que Mary Alice Artes freqüentava, procurou por Bob Dylan e lhe falou de Jesus. O que foi decisivo para Bob dobrar-se e ser batizado. Já que não tinham sede própria, as reuniões da Fellowship eram em prédios, salas alugados ou na praia como nos tempos da igreja primitiva de Jesus e seus apóstolos. Ideologicamente se baseavam na bíblia e tinham postura rígida em relação a drogas, excesso de bebidas e adultério. Bob foi imerso (morto) e emergido (ressuscitado) do mar tendo renascido como um novo homem, agora discípulo de Jesus, o único Salvador.

Saved, 1980
A conversão de Bob Dylan não agradou à comunidade judaica, já que os próprios filhos dele tinham sido criados na Lei pregada por Moisés, sendo que os mesmos se viam constantemente em situações constrangedoras em virtude da reviravolta de fé dada pelo pai.
Mas a nova crença inspirou bob Dylan a criar e lançar três discos com mensagens de conteúdo cristão. Uma trilogia amaldiçoada pelos críticos, com exceção talvez do primeiro, o excelente Slow Train Coming, de 1979, com as faixas “Gotta Serve Somebody”; e “Slow Train”; “Precious Angel” e “I Believe In You”. A seguir veio Saved, de 1980, com as faixas “Saved”; “Pressing On” e “Are You Ready” se destacando com mensagens mais radicais e moralistas sendo repudiado pela crítica e ignorado por boa parte dos fãs. E finalmente, Shot Of Love, de 1981, que apesar de ter sido um bom trabalho contendo “In the Summertime” e “Dead Man, Dead Man”, confirmou o repúdio geral. A crítica especializada já profetizava o fim de carreira do maior poeta do rock & roll.


Shot of Love, 1981
Bob Dylan enfrentava topo o tipo de pressão por parte de empresários, colegas do meio musical, críticos especializados, comunidades judaicas, público em geral, etc., para que ele voltasse a ser o poeta revolucionário e inconformista que o caracterizou no início de sua carreira. A freqüência em seus shows despencou junto com a arrecadação, como também a venda de discos e convites para apresentações. De repente ele se viu de escanteio e menosprezado. Era o preço a pagar por sua conversão ao cristianismo.
Em 1983, após um breve afastamento dos estúdios e palcos, Bob Dylan reaparece com o álbum Infidels, um trabalho onde demonstra profunda afinidade e identificação com o povo judeu e Israel, revoltando-se contra o anti-semitismo e o anti-sionismo. Agora ele não faria mais shows mais aos sábados e passou a estudar a Cabala. Ele teria abandonado o cristianismo finalmente, mas talvez não totalmente, pois uma faixa de Infidels era denominada “ Property Of Jesus” (“Propriedade de Jesus”).
Em entrevista à Rede Americana CBS na década de 2000 após 19 anos excluso, Bob desabafou: “Nunca quis ser profeta nem salvador, no máximo Elvis. Posso me ver transformando nele. Mas profeta? Não.”

Sua fé não resistiu às pressões do mundo
Em Mateus 5.11, está escrito: “Bem aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós.”
Em 2Timóteo 2.11-13, temos:
“Fiel é esta palavra: se já morremos com ele, também viveremos com ele; se perseveramos, também com ele reinaremos; se o negamos, ele, por sua vez, nos negará; se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode-se negar-se a si mesmo. 

Eis um link do you tube de "Slow Train Coming" com Bob Dylan:
 
Por Eumário J. Teixeira.

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